Thursday, October 16, 2014

O mito da boca fechada

"Em uma aula de zumba, uma das mulheres comentou comigo como ela ainda não tinha conseguido perder peso desde que havia começado a frequentar as aulas, há três meses atrás. Então ela complementou: “É que só exercício não adianta né, o segredo é fechar a boca”.

Fechar a boca?
Bom, já diziam que “em boca fechada não entra mosca”, então acho que isso é bom motivo pra não manter a boca aberta por aí.

Ou quem sabe, “se não tem nada interessante pra falar, mantenha a boca fechada” também possa ser um motivo pra manter a boquinha fechada.


Brincadeiras à parte, será mesmo que “pra emagrecer, o segredo é fechar a boca?”Será mesmo que realizar jejuns ou restringir muito a alimentação (papel das famosas dietas) é chave para o emagrecimento? Será mesmo que embarcar em uma dieta com poucas calorias é o caminho certo?

Bom, nosso corpo, como vocês sabem, precisa de combustível para viver. Ele é como uma máquina, totalmente perfeita e organizada, que necessita de combustível, na forma de energia, para manter suas funções vitais. Nossas células sobrevivem desse combustível que damos a ela, e nossos órgãos mantêm suas atividades devido a esse combustível. Ainda, cada organismo é único e vai precisar de uma quantidade individualizada de energia e macronutrientes e micronutrientes.

Vamos dar uma analisada no que acontece quando você “fecha a boca” (restringe muito sua ingestão alimentar – as dietas, ou realiza a prática de jejuns):

1)      Quando fornecemos muito menos combustível do que o corpo precisa, ele entra num estado de alerta. A restrição levará a uma perda de peso, mas isso à custo de estresse metabólico - e psicológico. Além disso é provável que você esteja perdendo principalmente água e músculos, e provavelmente atingirá o “efeito platô”, no qual a perda de peso se torna muito difícil

Seu corpo vai ficar em alerta, preocupado, pois está recebendo muito menos energia e nutrientes do que estava acostumado. Começarão a ocorrer alterações metabólicas para manter suas células e órgãos funcionando, mesmo à custa de pouco combustível. Isso fará com que você perca peso, é claro, pois seu corpo está consumindo suas reservas e se auto-consumindo para lhe manter vivo.

Porém nosso corpo é uma máquina perfeitamente adaptável e ele vai sim se adaptar a essa situação. Ou seja, se antes você precisava de x calorias para se manter, seu corpo vai conseguir funcionar perfeitamente usando muito menos calorias. Isto é, ele vai se otimizar! Isso é muito bom para ele, pois como uma máquina de sobrevivência, ele garante que você continue vivo e funcionante. Porém, para você que está querendo emagrecer, isto é um problemão, pois você entrará naquele chamado “efeito platô”. Ou seja você está comendo muito pouco, e não está perdendo mais peso.



(Pois é! E sem as calorias seu corpo não sobrevive!)


2) O proibido passa a ser muito desejado, e seu psicológico passa a ficar abalado: culpa e obsessão invadirão seus pensamentos.

Além disso, ao entrar numa dessas dietas, você acabará restringindo muitos tipos de alimentos. Ou seja, alguns alimentos começam a ser colocados naquela listinha de proibidos, e são cortados bruscamente da alimentação. Seja aquele bombom de depois do almoço, ou aquele bolinho do café da tarde, a ingestão destes alimentos será acompanhada do sentimento de culpa. Você começa a se sentir culpada ao ingerir certos alimentos, pois estes poderiam estragar seu processo. Essa restrição gera um efeito interessante no nosso psicológico: quando não podemos ter algo, nós queremos. E queremos muito. Assim, muitas dietas são acompanhadas por um pensamento obsessivo em comida. Quanto mais você controla sua alimentação, mais você pensa em comida.

3)      “Boca fechada” pode levar a compulsões alimentares.

Muitas vezes a dieta pode levar ao desenvolvimento de compulsões alimentares, as quais se caracterizam por uma ingestão de muita comida em um intervalo muito pequeno de tempo. Por exemplo, você passa uns 7 dias sem comer o seu tão querido bombom, e no oitavo você não se aguenta, e resolve comer um. Mas aquele um bombom está tão mais delicioso agora, e você não consegue evitar e acaba comendo um saco inteiro. E muitas vezes, o comer um bombom não planejado pela dieta causa o pensamento de que você “estragou a dieta no dia” e assim você se libera para atacar todas aquelas outras coisas que você vem proibindo. Mas tudo bem né, porque no dia seguinte você recomeçará a dieta, talvez até comendo bem menos no dia seguinte pra compensar, e tudo voltará aos prumos. O problema é que isso é um ciclo infinito. Você restringe, mas você não aguenta, e acaba comendo aquele alimento excessivamente.

4)      A vida social pode ficar abalada.

A vida social também pode ser um pouco abalada, pois como continuar frequentando aquela noite da pizza com as amigas? Ou como participar daquele churrasco de domingo? Assim, é comum que você passe a evitar estes eventos, ou mesmo comece a levar a sua própria marmita “saudável”, o que também pode não ser muito bem aceito pelos outros participantes.

5)      Dietas e jejum têm um tempo limitado: o “efeito sanfona”.

Provavelmente será difícil manter a tal dieta e essa restrição toda, e você vai acabar desistinto e voltando sua alimentação de antes. O problema, gente, é que agora seu corpo está otimizado, ou seja, seu corpo é capaz de funcionar super bem com menos combustível do que antes. Ou seja você come o mesmo tanto, mas agora seu corpo precisa de menos! Isso é o que leva ao famoso “efeito sanfona”. Você retoma sua alimentação habitual, e não só recupera o peso, como acaba ganhando mais peso ainda. O outro problema é que a composição corporal acaba mudando também, pois você havia perdido principalmente água e músculo, mas agora o excesso da sua ingestão será acumulado como gordura.


Voltando, será que o “boca fechada” realmente vai trazer o emagrecimento? Ou só vai confundir o seu metabolismo e o seu psicológico?
É claro, pessoal, que isso é uma explicação genérica do que acontece quando você segue uma dieta restritiva ou “fecha a boca”. Mas temos que ter em mente que o organismo é uma máquina fantástica e complexa, composta por inúmeras reações e compostos químicos e metabólicos, que se desestabiliza quando submetido a um extresse, como o da “boca fechada”.

Sinceramente, eu não sei como essa crença de que “pra emagrecer tem que fechar a boca” caiu na boca da galera (olha o trocadilho!). Eu fico surpresa, porque esse dito não só não é verdadeiro, como também ofende nosso corpo em sentidos físicos e psicólogicos. Pra manter nosso corpo em função e peso equilibrado, temos que dar a ele combustível suficiente!

Por isso, gente, nada de “boca fechada”.
Vamos dar ao nosso corpo o combustível que ele precisa pra sobreviver, para funcionar perfeitamente, e para nos deixar cheios de vida!

A essa altura, talvez você esteja um pouco confuso: Tá, se “fechar a boca”, fazer dietas ou realizar jejuns não funciona, o que funciona, afinal?

No próximo post, abordarei estratégias a respeito de como se alimentar adequadamente, seja buscando o emagrecimento ou a manutenção do peso, de um modo que respeite nosso metabolismo e nosso psicológico! Isso não involve milagre, fome, ou extrema força de vontade ou disciplina. Isso irá involver amor-próprio e confiança em si mesmo. Mas, para não deixar vocês na vontade, já vou deixando um exercício para vocês para introduzir o próximo post:

- Pratique amor-próprio (lembre-se que independente de você parecer com as mulheres divulgadas pela mídia, você é linda e ninguém pode te dizer o contrário!). Observe as coisas boas que você tem!

- Preste atenção no seu corpo, nos sentidos da fome e da saciedade, enquanto você come; e observe o prazer que os alimentos trazem.


Beijos!

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